A Casa

Sou morada em lugar perdido do universo, paragem de astronautas andarilhos em caminhos estelares. Por aqui pousaram vários, uns pernoitaram, outros foram embora sem ao menos fazer check out. Sim, há regras que são universais.


Tem hóspede que marca a gente. Entre partidas e chegadas, ouço histórias, compartilho sentimentos e me permito ser o porto ainda que temporário. Acolher é a arte.

Tem também as temporadas, as vezes concorridas. Há momentos de reserva, o hóspede promete, mas não aparece. Chuvas de meteoritos, passagens de cometa, intervenções estelares atrapalham muito o movimento. Secas, vixe. Mas tem o verão, a busca cresce, fica até difícil ser seletivo, mas por aqui precisa ser um de cada vez. O tratamento é reconhecido extra galaxialmente graças a exclusividade das normas e padrões.

Mas entre todos, três hóspedes fizeram página e por fim, escreveram fascículo inteiro neste diário. Um, quis por aqui fazer pouso, mas nunca mais houve quarto disponível. Outro, após grande hospedagem, quando partiu deixou saudade. Mas também largou pra trás uma sujeira impregnada, cuja conta da reforma até hoje engrossa meu apertado orçamento. Recebo notícias suas, via segundos e terceiros, mas me parece que demais pensões planetárias nem sempre se adaptam aos seus temperamentos atmosferais.

Ainda com o haver, há um intercambista empenhado em ser pensionista que sonha em fixar redidência e conseguir seu visto de permanência. Entre formulários e burocracia, o ser é campeão. As vezes cede para preguiça, posto que é mortal e se cansa. E eu espero, como um bom hotel de logradouro turístico.

Minhas paredes se estranham, o sistema de aquecimento quebra, as portas emperram. Afinal, não sou mais aquela construção moderna recém-lançada que inspirou sorrisos aos primeiros hóspedes. São 28 anos de serviços ininterruptos. Ainda à espera da classificação constelação de 5 estrelas do Guia 4 Naves.