Sou humano

- Quem é você?
- Meu nome não importa, eu sou o Astronauta 27
- O que é você?
- Eu sou humano.
- E o que é isso?


Somos muitos e compartilhamos um planeta. Eu não sei dos outros, eu sei de mim. Embora tenhamos as mesmas necessidades de sobrevivência, a evolução de nossos grupos trouxe diferenciação por desejos e costumes. O que sei de mim é que parti em busca de respostas na imensidão, a partir de uma visão superior. Longe da superficialidade, mas com um ponto de vista privilegiado, posso observar com minhas lentes apuradas o quotidiano de uma sociedade que me constrói, que me influi.

Por fim, são sentimentos íntimos que me guiam, necessidades simples de acolhimento e privilégio que, talvez, a imensidão de pontos luminosos da vastidão de minhas rotas sejam a fonte de energia para abastecê-las. Elas, juntas, mantem vivas a minha ambição, a minha chama.

Essa é a minha, cada humano tem a sua. Isso nos faz humanos, mas isso não nos faz nem iguais, muito menos nos mantém em algum acordo de cooperação, amor ou união. Para mim isso é simples, mas na realidade não é. Isso tudo nos dá um caráter errante, porém curioso.


- Não entendi nada, mas seja-bem-vindo.
- Tá tudo bem, eu não esperava mesmo que você entendesse. É realmente complexo, por isso a nave continua sempre a girar. Obrigado por me ouvir, mas poupe-me de perguntas e cobranças. Se houver desejo de compreensão e acolhimento, eu lhe oferecerei a minha força.
- Disso realmente precisamos. Por aqui, vivemos empoleirados ligados por nuvens de informação compartilhada, o que possibilita a ausência de convívio social. Há muito a ser feito após anos de estagnação de movimentos. Noções de prioridade se perderam em um ambiente onde provações são desafios propostos, mas jamais tomados.
- Este pode ser o caminho do meu povo. Mas há vontade de muitas naves que buscam impedir esse destino, através de um apego a confiança e a simpatia.
- Você fala demais. venha, você deve começar logo. Conhecer, interagir, apresentar, mostrar, vai, o que você está esperando?
- Não sei não. Sozinho não adianta. Se isso for prioridade só minha, pra eles não passará de um entretenimento, um dia diferente frente à uma rotina alienante, ainda que confortável. E disso, eu já estou cansado.
- E então, o que fazer?
- Vou inovar - vou esperar - enquanto houver combustível, vou esperar.