Outros Olhos



Se em outros olhos me perdi, nesses me perdi de novo. 
Um transplante sem rejeição, marejante.


O vento forte quase arrancou meus pés do chão, furacão
Ainda assim entrei na balsa e fui àquela ilha
De lembranças, cicatrizes e aprendizados

Engraçado notar o passar dos anos
em brisa leve que balança nossa franja
Um dia de descanso pronto para pensar
Sem arrependimentos, constatar o endurecimento das emoções

Que daquele vocabulário rico tenha sobrado apenas as palavras certas
talvez as doadas ja não fizessem mais sentido em meu dicionário
E se das roupas doadas batesse uma saudade, um desapego mal feito
talvez os cheiros já não refletissem história, apenas mofo

Com a urgência de retorno ao continente
atracar o calejado em terra firme, feliz
nas minhas mãos

Das risadas inconfundíveis, mordidas e filmes
de um futuro certo, sem noção da hora
Quando da cama se cai na relva de tua alma
e ali faço morada, enfim porto seguro

Ah, se as saudades cedessem espaço pro correto
e não atirassem de seus fuzis a tristeza ainda latente
e não me fizessem confundir os mesmos olhos
um dia daqui, outro dali, doado, doador
são e salvo.

Ali nos trópicos, talvez no verde daquele lago
onde os mergulhos eram inconsequentes
jamais saberei se a euforia era felicidade.
Na nova estação, as folhas caíram e na tranquilidade eu me recostei

Preferi aceitar que segurança deve ser isso mesmo
sem atropelos, sem freadas
volante na mão, reduzo e passo a quarta
de quilometragem em foco, até agora, a maior distancia percorrida

e sem dia pra desembarcar